quarta-feira, abril 25, 2007

Dia

Chego em casa. Desacostumada. Inquieta. A vida ferve na panela. Café com leite. Pão. Falta a fome. Invento. Os dedos contritos. Não podiam tremer nem segredar vazios. Fizeram. O branco agiganta-se, corrompe as paredes da alma. O poema desenha-se criança e elefante, céu e cardume, voz e pesadelo, amor e atleta. O poema se fluxa pelo inconsciente. Deságua e acontece. Durmo entre a salvação e o esquecimento. O poema insone pasta meus poros enquanto morro mais um pouco.

segunda-feira, abril 23, 2007

Pensando

Saio. No ônibus “as gentes” conversam, cada um com sua história, cada um carregando seus pequenos impropérios. Meus ouvidos recebem recortes de vozes. Mosaico de abstrações. Tento neste vozerio captar o poema que me salvará, que me permanecerá no tempo. Sei que o poema é feito de palavra e delírio, na mesma proporção, alquimia rara. Sei que dentro do ônibus, saindo das bocas, vindo até meus ouvidos os poemas voam. Mas não capto seu vôo, não consigo ordenar nada. Tenho pensado demais em mim. O egoísmo é um contumaz assassino da poesia.

quarta-feira, abril 18, 2007

Eu escrevia assim

Lá do outro blog, há exatos dois anos.

Parecia que toda sexta-feira era dia santo, porque ele lavava as mãos e entrava em uma espécie de reclusão sacra, sem comida, sem palavras. Ninguém nem mais questionava a sua atitude porque a resposta nunca vinha, apenas um grunhido quase inaudível acompanhado de um sopro forte como se estivesse esvaziando, não os pulmões, mas o corpo inteiro, talvez a alma e isso também dava a sensação de santificação. Não se ouvia música neste dia e nem se ligava a televisão, que ele vinha de onde estivesse e nem mesmo olhava pra gente quando metia a mão no controle remoto e desligava os aparelhos. Contestar era tolice; tantas vezes ligássemos, tantas ele desligaria. Toda sexta-feira vestia branco, dos sapatos até a armação dos óculos que ele pintara com tinta acrílica.

Com o tempo, a gente não se incomodava mais e nem mais despertava nossa curiosidade esta atitude dele. Quinta-feira, meia noite, esquecia as risadas, o trabalho, os amigos, a esposa, os filhos, os vizinhos, os problemas, os ruídos comuns a toda grande cidade, os gritos, os xingamentos, as discussões e caía no mais profundo silêncio e prostração. Antes, porém, que o bairro e a cidade se acostumassem com isso, ele havia sido desde alvo de chacota até morador ilustre, porque muitos já lhe atribuíam milagres; de curas impossíveis até prêmio acumulado de loteria. Depois, não. Depois, como ele se recusava mesmo a aparecer em público a sua fama foi minguando, minguando até que caiu em um tão profundo esquecimento quanto o fato da sua reclusão das sextas. E ninguém mesmo reparou quando passou a agir da mesma forma às quintas e depois às quartas e terças até que foi desaparecendo por completo do convívio social e do cotidiano da vida de quem quer que fosse. Os filhos o perderam entre os brinquedos e papéis aposentados no quarto e a esposa casou de novo sem que ninguém questionasse a bigamia, porque como ela, todos já haviam se esquecido do sujeito que vestia branco às sextas e depois toda a semana e que caía em silêncio e prostração. Mas ninguém ouvia música ou assistia televisão, porque assim como se acostumaram com sua ausência, se acostumaram com a mudez dos aparelhos. E, primeiro a rua, depois o bairro e depois a cidade inteira, que não deixou de ser cidade e não deixou de crescer, progredir e proliferar, silenciou, porque as palavras, como o homem recluso, também acabaram por cair no esquecimento.

E quando o som de uma porta rangendo quebrou o silêncio da cidade que parou imediatamente, presa pela surpresa do ruído, ninguém estranhou as asas enormes do homem que saiu do quarto, barba e cabelos brancos até os pés e muito menos estranharam, quando ele soprou forte e esvaziou até esmaecer e virar ar.

domingo, abril 15, 2007

Andanças

Sobral é uma cidade quente, cheia de praças lindas e com um guaraná próprio, com gosto de infância. Fui a trabalho, como tem sido assim nas minhas andanças pelo interior do Ceará. Engraçado me dar conta de que as cidades ditas pequenas são na verdade tão grandes e desenvolvidas, com universidades, teatros, museus, edifícios e no entanto conservam o hábito de no fim do dia ter cadeiras na calçada, pessoas cumprimentando as outras pelas ruas, andando a pé longas distâncias... essa lembrança de infância está ligada a essas caminhadas, onde passar a tarde na casa de uma amiga eram 40 ou 50 minutos para chegar, com uma turma grande, fazendo molecagem pela rua. Banho de rio, secar as roupas e o corpo deitada na grama, roubar frutas e depois correr do dono do sítio, se estabacar no chão em enganchar a blusa em algum arame farpado. Imaginei se a cidade onde morei ainda conserva essas coisas ou se está assim, maior, cheia de modernidades... vontade de descer na estrada e conversar com as pessoas que moram naquelas casinhas de pau a pique, com paredes de barro, que nem tem energia elétrica. Como elas vivem, como se alimentam, como é essa sua solidão? Sentar nas varandas com as redes coloridas naquela chão de terra batida, num calor de enlouquecer e eles ali, vendo o tempo correr. Quero saber como é, quero viver assim, sentir o que sentem. É feliz, é triste, o que é? Vontade de descobrir...

quinta-feira, abril 12, 2007

Na estrada, trabalhando

"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros." (Clarice Lispector)

terça-feira, abril 10, 2007

Fulô

E é de delicadezas que a felicidade é feita. Obrigada, Igor. Eu adorei. :*

domingo, abril 08, 2007

Tempo, tempo mano velho

Ontem vi um filme bobo, coisas de um sábado sem muito o que fazer. E não é que eu me reconheci um pouco mais do que gostaria na personagem que faz a assistente de Miranda Priestley em O Diabo Vestre Prada? Emily, quer dizer, Andrea, passa por cima daquilo que mais quer só para provar que pode fazê-lo. Fiquei pensando, é isso mesmo que eu quero? Há quanto tempo adio a minha saída do atual emprego por gostar das pessoas, por saber fazer bem o que faço, por admirar a liderança... não é o que quero para a vida toda. Por que ficar esticando isso por mais um ano, dois, três... está chegando a hora de chutar o pau da barraca e, sinto isso, vai ser é logo. O tempo não perdoa aqueles que deixam que ele passe assim, sem construir nada. O meu está se esgotando. Posso deixar não.

terça-feira, abril 03, 2007

Para ti

*Não sei bem ao certo explicar o que acontece quando alguém, logo de cara, já representa para você mais que um amigo, simplesmente te faz sentir que vocês se pertencem. Que tipo de gente é essa que te eleva a essa condição tão especial de dividir sua vida, seus momentos, seus sorrisos, seus gostos? Acredito ser do mesmo tipo que te faz sorrir para o vento que passa ou ser o motivo de pensamentos persistentes que ocorrem até em músicas não necessariamente românticas. É o seu par na dança e na ciranda dos seus dias, tornando tudo melhor. O dia acontece com gosto de horas que passam correndo para o encontro desejado. A noite acontece abraçada com os sonhos que nascem na paz de dormir lado a lado. Assim, eu me entrego e me rendo no jogo, mas não o perco. Ganho a sua presença em minha vida a me mostrar a possibilidade das impossibilidades, caminhando...sem os pés no chão. Amo. Muito.
*Adaptado do texto dela.

domingo, abril 01, 2007

Dodói, jururu

Espirro, tosse, febre, espirro, sono, mel, espirro, tosse. Esse tem sido meu fim de semana. Será que dava pra ter uma trégua quando eu for ao cinema, ô dona gripe chata dos infernos! Ops, desculpe, não queria xingar a senhora, dona gripe boazinha. Droga, ela ouviu o xingamento. Cadê meu Resfenol...