terça-feira, maio 17, 2011

Terça

Era tarde e ela tinha que acordar muito cedo. Mas a lua estava alta, o vinho estava bom e ela ia ficando por ali, deitada no sofá, contando quantas janelas o prédio lá da ponta da rua parecia ter. Há dias sonhava com o sal do mar na pele mas vestia o terno e o salto e seguia para o trabalho. Telefone, computador, memorando, jornal, chefes, articulações, pausa para o almoço, telefone, reunião, telefone, um café, telefone, computador, telefone, texto, trânsito, buzina, escada, casa.

Ela queria beleza, aquela do dia a dia. De olhar pela janela e se emocionar. De dizer poesia no meio do nada e ser entendida. Mas ainda estava tudo um tanto árido, como quando morava na cidade de terra vermelha e poeirenta. Escrevia tristezas porque simplesmente não conseguia ser de outra maneira. Não que estivesse triste, daquelas melancolias profundas que fazem perder a vontade de tomar banho e murchar o coração. Era só que os tons de laranja dela agora estavam mais terrosos, menos vibrantes.

Não conseguia explicar a súbita vontade de ficar. O seu natural, era ir. Arrumar as malas, se despedir. Agora queria ficar e estranhava. Dia desses num almoço, disseram a ela que precisava criar raízes. Precisava? Raízes, tronco, galhos, copa frondosa? Deu-se conta que tudo havia mudado. Os amigos, o estilo de vida, de música, de bebida. Pensava que daqui a pouco faria trinta e dois anos e isso era pesado. Ela estava pesada. Mas já era tarde e ela tinha que dormir. Mais uma taça de vinho, quem sabe se inspirasse. Quem sabe quando acordasse seria sábado e ela iria ao mar salgar a vida que andava insossa, mas estranhamente confortável.

quinta-feira, maio 12, 2011

Bilhete

Assalta um banco e vem me ver.

Beijo.

V.