quinta-feira, outubro 18, 2012

Colírio

Eu bebo em grandes goladas e só sei sentir se for profundo. Eu me envolvo com meus desejos e diferencio o que me tira do chão do que me revira os olhos. Não sei ser menos, sou na medida do que me faz gritar de gozo, de dor, de alegria. Sou dos tremores no corpo e no peito, não dos jogos e do fingir que não me afeta. Vivo em vermelho escarlate e não vou me pasteurizar porque sua vista dói. Compre um óculos escuro ou largue de mim. E seja feliz com sua escolha.

segunda-feira, outubro 01, 2012

Para ser bonita

Demorei algum tempo para aceitar a beleza do meu corpo nas suas proporções generosas. Nunca fui magra e aos trinta decidi parar de brigar com a balança. Decidi ser uma pessoa saudável e feliz. Minha rotina inclui caminhadas, aulas de yoga e uma alimentação saudável que me permite comer doces e escolher um cardápio que não me escravize.

Sempre fui vaidosa e com a maturidade aprendi a me vestir com roupas que valorizassem as minhas formas e não as escondesse, as disfarçasse. A cintura, os quadris, as pernas, os decotes que mostram minhas sardas. Fiz tatuagens em lugares que nem achava tão bacanas, mas fazem parte do meu corpo, então são a extensão de todas as minhas pequenas belezas.

Nunca usei roupas na casa dos trinta e o mínimo de calças que já usei foi 42, aos 17 anos. Hoje oscilo entre o 46 e o 48, a depender do ritmo de exercícios que ora aumenta, ora diminui pela minha correria. Isso nunca me impediu de ter namorados, marido, amantes e admiradores. Não gosto de movimentos que dizem que as gordinhas são melhores ou ainda que é preciso ter uma postura mais agressiva no visual para ser respeitado, para ter atitude. Atitude é uma coisa que sempre tive e isso nunca foi ditado por uma balança.

Pra mim, mulher é bonita porque é mulher, porque é gente, porque se sente bonita e se comporta assim. Não é bonita porque veste um número menor ou maior, porque pendura em si uma etiqueta PP ou GG. É bonita porque tem a capacidade de existir, de caminhar nos seus dias em busca do que a faz feliz. Somos todas diferentes mas igualmente dotadas de encanto e de possibilidades de escolhas. Se a sua felicidade está em ser magra, vá em frente. De verdade. A minha não está.

Escolhi ser bonita desse jeitinho aqui, ainda que existam dias em que o cabelo não ajuda, a roupa não cai bem, o paquera não me olhou ou o sapato fez um calo. Isso acontece com as plus e com as mini, é uma característica humana. Não é se fantasiar de alguém bonito, é sê-lo. Beleza pra mim não é ditadura, é escolha, nem sempre fácil de se fazer, mas imensamente - com a desculpa do trocadilho - necessária.