segunda-feira, outubro 30, 2006

Mal estar

Eu ando tendo alguns piri-paques e ninguém sabe dizer o que é. Vai ver que é porque nenhuma das pessoas com quem falei seja médica. É, talvez. No fundo, eu sei do que se trata. É insatisfação. Mas com o que? Ora, eu tenho uma casa boa, um bom emprego, um amor e um amar. Falta o que mesmo? É mentira. Eu não sei. Porque simplesmente não sei o que falta. Quer dizer, até sei, mas como é que posso ter? Como fazer? Jogar pra cima? Prefiro não saber. Aí invento cidades distantes, nos meus pensamentos que vão cada vez mais para lá. Nesses lugares eu tomo banho de rio, beijo o Nêgo embaixo de árvores, sinto o vento no rosto e bebo vodca com suco de laranja quando anoitece. Quando temos frio, nos enrolamos um no outro, calço meias coloridas e como brigadeiro quente de panela morrendo de rir das histórias que ele me conta. Nessas cidades, fotografo o que quero, mudo a vida de quem vejo, faço algo, sabe? Falta isso. Não é demais, eu sei, mas ainda não posso. Preciso de tempo, de trabalho, de estabilidade até para poder. Reclamo de barriga cheia, eu sei. Na verdade de barriga vazia, ando enjoada, prefiro evitar o que me provoque náuseas. Não estou grávida, isso não consta nos meus planos. Mas isso é assunto para um outro post.

domingo, outubro 29, 2006

É assim

Tem dias como hoje que tudo que eu queria era sair correndo. Não tem explicação. Eu acordo angustiada, querendo não pertencer a nada. Tudo me incomoda, nada me deixa feliz. Nem brigadeiro de panela, nem música boa na vitrola. É assim e pronto. Será que demora a passar?

segunda-feira, outubro 23, 2006

Um poema antigo para uma foto nova


Não se impressione
que não sou anormal
muito pelo contrário
bem abaixo da média
e nem nada do que tenho
vale mais do que merece;
Um abajur, um armário
arroz com feijão agulha, linha, um botão,
um maço de cartas marcadas
algumas poucas lágrimas
nenhuma peça de antiquário,
nenhuma jóia brilhante
uma gata rajada, vira-latas
nunca opinante nem partidária,
tal qual eu, nada impressionante
e comumente ordinária.

domingo, outubro 22, 2006

Eu confesso

Prometi que não faria desse blog uma coisa tão pessoal, que seria diferente do anterior, onde tanto me expus. Esse foi criado para colocar textos aleatórios, crônicas, contos, poemas e imagens. Mas não consigo. Não tenho jeito. Sou assim, me mostro, principalmente nas palavras. É mais forte que o meu lado racional. Resolvi não criar mais rótulos, escrevo o que sinto e ponto final. Hoje é só, já basta o desabafo.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Parabéns...

Eu pensei em declarar o meu amor, que é imenso, ao homem que hoje completa o ciclo dos seus 33 anos. Mas eu não sabia o que dar de presente, nem o que dizer... Com ele fui aprendendo que o nosso "estar junto" era a melhor coisa, melhor que qualquer coisa. Nos meus dias de abuso, de TPM, de cansaço, estresse, é o sorriso dele que eu busco e tem o poder de me acalmar. Nas minhas birras de menina, nas risadas que damos, nos planos de fim de semana, para as viagens, no ficar deitados na sala sem fazer nada, a cada dia, somos nós o que importamos. É por ele que abro mão da nossa individualidade e escancaro a casa e o coração para o pequeno morar, compartilhar da nossa vida e dessa felicidade. É nele que acredito em seus discursos sobre novas possibilidades, oportunidades, visões de mundo tão diferentes do que vivemos hoje. Como poderia escolher um presente à altura de tudo que me dá? Fiquei quieta, imaginando como poderia ser... não consegui criar nada, nem cartão com colagens, nem caixas coloridas e fitas estampadas, nem livros que nunca poderia ter escrito sobre esse amor. Escolhi dar a ele a nossa vida, assim, como está apara mais na frente ser ainda melhor. Porque ela não é pouco, é cheia dos nossos melhores momentos. Ele me disse hoje que casamento eram promessas e nós iríamos cumpri-las, todas elas. Acho que é isso. É o presente, a declaração. Prometo. Na alegria e na tisteza, na saúde e na doença, que seremos felizes, até que a morte nunca nos separe. Amén. Feliz aniversário, nêgo.

terça-feira, outubro 10, 2006

Eu poderia ter escrito

"Conheço em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu quero eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda. É a visão de uma floresta, e na floresta vejo a clareira verde, meio escura, rodeada de alturas, e no meio desse bom escuro estão muitas borboletas, um leão amarelo sentado, e eu sentada no chão tricotando. As horas passam como muitos anos, e os anos se passam realmente, as borboletas cheias de grandes asas e o leão amarelo com manchas - mas as manchas são apenas para que se veja que ele é amarelo, pelas manchas se vê como ele seria se não fosse amarelo. O bom dessa imagem é a penumbra, que não exige mais do que a capacidade de meus olhos e não ultrapassa minha visão. E ali estou eu, com borboleta, com leão. Minha clareira tem uns minérios, que são as cores. Só existe uma ameaça: é saber com apreensão que fora dali estou perdida, porque nem sequer será floresta (a floresta eu conheço de antemão, por amor), será um campo vazio (e este eu conheço de antemão através do medo) - tão vazio que tanto me fará ir para um lado como para outro, um descampado tão sem tampa e sem cor de chão que nele eu nem sequer encontraria um bicho para mim. Ponho apreensão de lado, suspiro para me refazer e fico toda gostando de minha intimidade com o leão e as borboletas; nenhum de nós pensa, a gente só gosta. Também eu não sou em preto e branco; sem que eu me veja, sei que para eles eu sou colorida, embora sem ultrapassar a capacidade de visão deles (nós não somos inquietantes). Sou com manchas azuis e verdes só para estas mostrarem que não sou azul nem verde - olha só o que eu não sou. A penumbra é de um verde escuro e úmido, eu sei que já disse isso mas repito por gosto de felicidade; quero a mesma coisa de novo e de novo. De modo que, como eu ia sentindo e dizendo, lá estamos. E estamos muito bem. Para falar a verdade, nunca estive tão bem. Por quê? Não quero saber por quê. Cada um de nós está no seu lugar, eu me submeto bem ao meu lugar. Vou até repetir um pouco mais porque está ficando cada vez melhor: o leão amarelo e as borboletas caladas, eu sentada no chão tricotando, e nós assim cheios de gosto pela clareira verde. Nós somos contentes. "
(Para não esquecer - Clarice Lispector)

quarta-feira, outubro 04, 2006

E no meio da correria dos meus dias ele me salva

Ontem, pelo MSN:

- Amor, você nem me esperou voltar da natação...
- Eu tava atrasada, gato, saí correndo.
- Mas eu cheguei 7:30...
- E eu saí 7:10.
- Achei que ia te encontrar em casa.
- Ô, amor, é que eu ia pegar ônibus aí como demora eu saí cedo.
- Tudo bem. Trouxe uma flor pra você.

(Liga a Web Cam com uma florzinha lilás na mão e uma vontade de ter ficado em casa mais 20 minutinhos me invade)

Hoje

- Ainda tá em casa? (abrindo a porta e entrando na cozinha)
- Perdi a hora, vou organizar isso aqui e sair correndo (lavando a louça ainda de toalha)

(Tira um buquê de flores amarelas roubado de algum jardim)

- Pronto, só chego no trabalho hoje lá pras 9h.

(Não há palavras para definir essa delicadeza, a preocupação, o carinho. Não preciso de mais nada, só da gente. Obrigada pelo começo de dia leve e pela vida que temos. Amo você.)

segunda-feira, outubro 02, 2006

Zaratustra

"É verdade: amamos a vida não porque estejamos habituados à vida, mas ao amor. Há sempre o seu quê de loucura no amor; mas também há sempre o seu quê de razão na loucura. E eu, que estou bem com a vida, creio que para saber de felicidade não há como as borboletas e as bolhas de sabão, e o que se lhes assemelhe entre os homens. Ver revolutear essas almas aladas e loucas, encantadoras e buliçosas, é o que arranca a Zaratustra lágrimas e canções. Eu só poderia crer num Deus que soubesse dançar. E quando vi o meu demônio, pareceu-me sério, grave, profundo e solene: era o espírito do pesadelo. Por ele caem todas as coisas. Não é com cólera, mas com riso que se mata. Adiante! matemos o espírito do pesadelo! Eu aprendi a andar; por conseguinte corro. Eu aprendi a voar; por conseguinte não quero que me empurrem para mudar de sítio. Agora sou leve, agora vôo; agora vejo por baixo de mim mesmo, agora salta em mim um Deus. Assim falou Zaratustra."

Nietzsche