segunda-feira, agosto 07, 2006

Fogo, água e ninhos

No começo do ano, no período de carnaval quando viajamos para Recife, um passarinho fez seu ninho no lustre da nossa varanda. Quando voltamos, eles já estavam instalados e não tivemos coragem de colocá-los para fora. De vez em quando, caía um ovo de lá e meu coração também se partia. Chegamos a colocar uma toalha em cima da cadeira bem debaixo da abertura da luz, para que se caíssem outros ovos não quebrassem. Pois bem, os passarinhos nasceram e não nos deixaram mais dormir. Era uma verdadeira gritaria às cinco da manhã pedindo de comer à mamãe passarinha. Um dia eles cresceram e, como todo filho ingrato, foram embora. Confesso que senti falta.

Daqui da varanda eu vejo um pequeno córrego rodeado por árvores e arbustos onde alguns desses passarinhos fazem seus ninhos. Sempre gostei disso nesse apartamento e à noite, quando tudo está escuro, deixo as luzes apagadas para ver de onde as corujas saem. Ontem, fomos pegos de surpresa com um fumaceiro esquisito vindo lá dos arbustos. Sol a pino de meio-dia, um vento forte e alguém resolveu queimar seu lixo embaixo das árvores, bem onde haviam várias folhas secas. Em cinco minutos aquilo virou um incêndio. Corpo de bombeiros acionados, só nos restou esperar. E foi uma hora de espera na varanda, de várias ligações querendo saber se a viatura estava a caminho enquanto o fogo lambia os arbustos e transformava tudo em cinza. Perdi a conta dos passarinhos que voaram e daqueles que ficaram como vigias em cima de uma das poucas árvores que restou.

Eles chegaram, os bombeiros, mas já era tão tarde. Aos poucos, os vizinhos das casas em frente foram saindo, curiosos pelo que estava acontecendo. Um, que tenho quase a certeza, deve ter sido o autor da brilhante idéia de atear fogo no lixo, saiu com sua lata de cerveja, nervoso pelas providências que seriam tomadas. Na certa, queria saber se alguém o tinha denunciado, tamanha a sua preocupação em mostrar aos homens com as enxadas e mangueiras de incêndio onde estavam os focos. Eu sei, estou sendo malvada e julgando o rapaz, mas é que não consigo evitar. Apagaram tudo, recolheram seu material, beberam a água que lhe ofereceram e se foram. A vida voltou ao normal. Menos a deles, que moravam onde antes era verde. E aqui em casa, bem, aqui afastamos as coisas da varanda, pra dar mais espaço. Quem sabe eles não querem fazer ninhos de novo...
Comentários:
Ah, tem dó não. O cara queimar lixo perto de árvore?
Eu tava conversando sobre isso com um senhor que mora e nasceu em Tokyo há 60 anos. O filho dele esteve comigo no Brasil e ficou impressionado com a carência de verde que São Paulo tem. Digo isso do centro da cidade, da downtown nua e crua.
Em Tokyo, acredite, há verde por todo lado, mesmo nos becos de Shinjuku (um bairro very boêmio e urbanaço modernoso) há sempre um vaso, uma planta.
Eu expliquei que nossa colonização foi feita na base do "faço, cresço e arrebento", sem a visão preservacionista que há cá na ilhota, justamente por ser uma ilhota.
Os passarinhos voltarão. Acredite. Eles sempre voltam. Os daqui de casa sempre voltam na primavera.
BedoNei.
 
Posso usar o "por hoje está sendo bom"?
 
Ah.
Os olhos úmidos.
Porque não se queimam apenas ninhos.
Queima-se promessas.

Lindo. Estrelas prá ti, moça.
 
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