sábado, fevereiro 03, 2007

Como salvar a Ilha de Moçambique?

Uma das vantagens de trabalhar onde trabalho é o contato que posso ter com as pessoas, sobretudo as de cultura tão diferente da nossa. Ontem foi dia de divulgar a exposição fotográfica "Como Salvar a Ilha de Moçambique?" para os veículos de comunicação locais. Fui conversar com o curador para ter maiores detalhes, um senhor moçambicano muito magro, de gestos contidos, sorriso raro mas largo, óculos maiores que seu rosto fino e uma voz suave mas que sabe ser firme quando pede algo de que precisa. Foi quase uma hora de conversa. Eu já tinha as informações de que precisava, mas não pude deixar de querer ouvir as tantas histórias das quais me falava. Do quanto o trabalho que ele fazia hoje representava para seu povo, que quem deviam aparecer eram as Mulheres Moçambicanas (da Ong Círculo das Mulheres de Moçambique), que a discussão sobre o que se fez da Ilha (vejam bem, a Ilha de Moçambique e não Moçambique) durante e agora no pós-guerra. Fiquei completamente apaixonada pela história desse povo que enfrentou os portugueses pela sua independência. Ele, o curador, Carlos Magalhães, participou da luta armada, viu amigos morrerem por esse sentimento de liberdade. Os quase 20 anos de guerra civil, terminada em 1992, devastaram a nação: deixaram 1 milhão de mortos e milhares de minas terrestres, que continuam matando e mutilando civis. Corri de um lado pro outro, fechei entrevistas, rádio, tv, todos os jornais. recebi os parabéns dos superiores mas gostei mesmo foi quando cheguei à Galeria de Artes onde Carlos montava a Exposição e ele veio me falar com seu sotaque luso-africano e os olhos marejados num rosto talhado pela luta: "Muito obrigada pelo que você fez, você me fez vibrar hoje, significa que eu consegui passar a minha mensagem." E eu sei que não estava fazendo apenas o meu trabalho. Essa é a paixão que me move, é perceber que tem gente que não espera apenas que façam as coisas por ela, mas cria oportunidades, move céus e terras, vai conversar, sai da sua terra Natal para mostrar o mundo o que realmente importa, esquece do particular e cria uma verdadeira coletividade. É nisso que eu acredito e pelo que luto.
Comentários:
é bom saber que ainda existem pessoas assim.
 
Feliz, muito feliz isso.

(e feliz também por ter achado tu pelos blogs da vida... nas ladeiras, se a tradição for mantida, eu encontro fácil... ;))
 
bicha danada!! da até gosto de ver
 
Puxa...Será que você pode me passar o contato de Carlos Magalhães? Ele esteve aqui em Salvador há muitos anos e eu me identifiquei muito com a proposta da exposição.

Grata.

e-mail: fernandabbarbosa@yahoo.com.br
 
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