quinta-feira, setembro 13, 2007

Carta para Tatit

Minha amiga linda,

a vida anda corrida pelas bandas de cá, com muito trabalho se acumulando na minha mesa e outros tantos sonhos se formando na minha cabeça. Voltei a ouvir muito Otto, que me lembra tanto a minha vida em Recife. Também descobri Dona Inah, você conhece? Uma voz tão forte de samba, de histórias vividas com intensidade. Escuta. A casa está tomando ordem, depois de três anos morando com Marcelo comprei um guarda-roupas. Ficava adiando, para fazer armários embutidos na casa nova que queremos ter. Mas o dinheiro anda curto, então melhor comprar logo o guarda-roupas que é mais acessível que uma casa. Fiquei feliz deveras com essa bobagenzinha, de arrumar as camisetas e as saias em seus devidos lugares, em pendurar meus vestidos nos cabides. Ficou bonito, tudo colorido ali. As camisas de Marcelo impecáveis penduradas ali. Cada um do seu lado e um espaço no meio para ser uma "área comum" do casal. Acho que é meio como queremos deixar nossa vida. É que preciso de minha individualidade e sei que tu vais entender quando digo isso. Estava vendo as tuas fotos de café da manhã, como a Nara está grande! Os teus cachos nela, fiquei tão emocionada... acho lindo quando os filhos se parecem com os pais, mesmo que nem seja fisicamente, num gesto, numa frase... eu acho. Tu acredita que Briza ainda não pegou a bolsa de joaninhas dela? Vem tão corrida por cá, acabamos não nos vendo. Uma vez a vi mas esqueci de levar o teu presentinho. Se ela não pegar nesse fim de semana eu mando por Sedex, prometo, visse? Como estão as aulas de Francês? Uma amiga do trabalho começou a ter aulas, fiquei com vontade também. Quer fazer um curso comigo por correspondência não? Bora usar a modernidade dessas ferramentas, webcam, Skype, formar turma, lançar um novo conceito. Bora, bora, bora? Eu abandonei a minha turma de Inglês, era à noite, eu não conseguia sair do trabalho a tempo. Fiquei triste, comprei até os livros, fiz lição, treinei em frente ao espelho. Vou tentar em dezembro, aulas intensivas lá no Senac para não perder tanto. Às vezes acho que perco muito. As pessoas acham bom quando falo do emprego mas eu nem acho essas coisas todas. Assim, eu gosto, faço bem, sou boa demais sem falsa modéstia, paga minhas contas, mas eu construo o quê mesmo? Não sei... será a volta de Saturno me aperriando o juízo? Eu tava lembrando dia desses das conversas da gente lá no jardim da tua sogra. Como a gente quer as coisas, Tatit, como a gente quer. E por que a gente não vai atrás, hein? Por que a gente deixa passar? Eu fico aqui, torcendo pra tu voltar um dia ou eu ir. A gente vai fazer as coisas acontecerem, vai dar colo uma pra outra e vai morrer de sambar no meio da sala, com uma cerveja gelada na mão e as crianças ao redor. Pois é, crianças. Tenho pensado em ter filho, veja você que coisa... mas é pra daqui a uns dois, três anos, quando João crescer mais e a gente não tiver mais tantas "obrigações". Aí vou fazer lista de meta, tipo aquelas de fim de ano e vou cumprir tudinho, começando por uma ida a Sampa conhecer tua casinha e terminando em parir um filho de Marcelo e meu. Terminando não, porque aí é que começa, né? Mas daí já terei tempo para fazer uma lista nova, com tu vindo me ver e passando carnaval lá em Pernambuco. Eu me animo quando penso nessas coisas. Marcelo pegou dengue, nem é das mais fortes, graças a Deus. Só dor d ecabeça e febre e eu gosto de cuidar dele, de ir comprar coisinhas bacanas pra ele comer, de deixar ele dormir até mais tarde. É amor mesmo, nêga. Tivemos uma briga feia essa semana, sofri muito e acho que ele também. Mas acho que resolvemos, quer dizer, estamos resolvendo porque uma dor não se cura assim logo. Pelo menos em mim não. Importante que a gente quer que passe. Afe como eu tou faladeira, né? Deixa eu ficar por aqui, esperando tu me responder. Vou colocar essa carta nos Correios num envelope colorido que nem a gente. Te amo. Pra sempre.

Van.
Comentários:
van,
tu tendo um filho,
ele será meu sobrinho?
amo tu.
e muito que só.
 
Muito bonita sua maneira de escrever... é como se desse pra ouvir
Tb fiquei assim com meu novo guarda-roupas... achei que ficaria arrumadim só na primeira semana, mas já faz seis meses e continua arrumadim (não tanto né, convenhamos)
rs
bjinhos
 
Eu vim aqui reler, sabe. Porque é bom demais, porque isso aí é você, é eu, é a relação que a gente construiu aí em Fortaleza em meses de convivência. Entre encontros no ponto de ônibus, cerveja e samba no Bebedouro, conversas intermináveis na rede, a nossa amizade ganhou uma estrutura bem boa. E que vai durar, apesar do tempo que passar, da distância física, da saudade do seu abraço e do seu sorrisão lindo.

Te amo também, nêga. Do fundo do coração. E te espero, sempre.
 
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