domingo, setembro 23, 2007

Grafite e lápis de cor*

Meu caderno de infância tinha uma casinha feliz. Uma árvore mal rabiscada com um tronco e um balanço nele, do lado direito um sol, ao fundo uma bananeira com um coração flechado que eu nem sabia de quem. O caminho traçado a lápis ia dar lá no jardim, onde inventei passeios de portas abertas para um lago rodeado de grama verdinha, pincelado num belíssimo campo florido. Nesse cenário, nunca podia faltar um gato de rabinho enrolado e olhos arregalados, espreitando maliciosamente por entre as flores coloridas.

Meu caderno de infância tinha muitas casinhas felizes. Por trás de uma delas, subia um coqueiro alto indo bater lá no céu. Juntava-se às estrelas por entre todas as nuvens que ameaçavam chover. Chovia quando eu queria, nos desenhos que eu fazia. Sol e lua se encontravam e tudo se harmonizava sem nenhuma explicação. Para quê explicação?

Com meu grafite eu desenhava o mundo inteiro! O que estava errado, eu podia apagar. Mas nunca apaguei estrelas. Quantas vezes me desenhei na noite a olhar as estrelas num céu limitado pelo espaço das páginas, mas tendo a certeza de que alguém no alto estaria a me olhar... Na minha imaginação de menina, era Deus quem me espreitava.

O vento? Nunca o soube desenhar. Mas no meu auto-retrato, os fios dos meus cabelos se esvoaçavam sempre com um laço de fita. Escrevia embaixo: EU. Todos os contornos coloriam cenas abertas e um final feliz. Meu caderno de infância só nunca me revelou o tamanho da saudade que sinto agora. Nem da quase impossibilidade que tenho de desenhar o passado. Lá deixei os melhores momentos do mundo e os personagens mais próximos a mim: minha mãe, meu pai, minha irmã e as amiguinhas, que eu fazia todos de pernas finas, sorridentes e felizes. Eu ficava no meio, ninguém tinha ido embora...

Agora eu nem desenho mais, e achava que toda a poesia da vida estava naqueles grafites, de onde eu nunca saí. Mas é que eu transformei os desenhos em canções, em quereres e viagens e agora espalho assim, rimas pobres em palavras imaginando cores e nossos beijos reiventando amores.

*texto da moça Nilze.
Comentários:
Que lindo, Van...lembrei que eu também desenha casinha feliz...simples, porta e janela, uma cerca e um arvore cheinha de frutas. Era maça, eu acho.
saudade docê...menina doce.
bj
 
O texto grafites � meu, Vanessa. Por que est� em seu blog sem a minha assinatura, mulher? Isso � feio... coloque os textos, mas ponha os autores. Ele est� no meu blog http://nilze.blogspot.com/
 
Dona moça, Nilze, não sabia que o texto era seu. Recebi por email há algum tempo, creio que agosto ou setembro do ano passado e não havia autoria nele, publiquei porque me identifiquei. Sempre coloco de quem são os trechos, músicas, poemas, crônicas que de vez em quando ponho no meu blog, portanto, foi um equìvoco, já resolvido com seu nome e link lá no post. Peço desculpas. Volte sempre que quiser, será bem vinda :)
 
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