terça-feira, outubro 02, 2007

Notícias da minha janela


Alguns acasos são muito infelizes. Por acaso eu trabalho num prédio que fica em uma das principais avenidas da cidade. Por acaso, o prédio é em frente a outro que foi ocupado pelos manifestantes do MST desde ontem pela manhã. Sim, as cantorias e discursos deles são irritantes. Sim, eles são manipulados por várias outras forças políticas. Não, eu não vou analisar discurso, filosofia e nem a reforma agrária. Há pouco mais de vinte minutos ouvimos daqui da sala (que tem janelas de vidro que nos dão uma visão privilegiada do local) uma gritaria grande. Daqui pude ver três policiais discutindo com uma massa de manifestantes. Os manifestantes gritavam algo como estar ali em paz e eles apontavam armas enquanto eram acuados. Um dos policiais chamou reforços pelo celular e em dois minutos - vejam que coisa, quando eu fui assaltada e liguei pro 190 me mandaram ir à delegacia mais próxima prestar queixa e fazer B.O. e hoje em dois minutos, praticamente no mesmo local do meu assalto aparecem quase uma dezena de oficiais - chegaram carros de polícia civil e militar. A partir daí a pancadaria foi geral. Ninguém falou nada, foram descendo das viaturas e descendo o pau em qualquer pessoa que passasse. Assim que chegou, um dos policiais puxou um rapaz que estava na calçada olhando tudo e bateu tanto que nem reação ele conseguiu ter, o jogou no chão com a arma apontada para a sua cabeça no meio da avenida onde os carros passavam e por um momento achei que iria executá-lo ali mesmo. Por acaso uma equipe da TV Diário estava presente no local mas daqui vi o acovardamento da repórter que se escondeu e o cinegrafista que não flagrou os momentos pois estava do outro lado. Imediatamente avisamos às redações locais e aos poucos chega a mídia no local. O cenário que vão encontrar agora é de carros estacionados e policiais calmos, com pessoas dentro das viaturas e manifestantes gritando. É só isso, e só será isso que vai sair amanhã no jornal. Ninguém verá um policial arrancando um banquinho onde um manifestante estava sentado e jogá-lo dentro do laguinho, nem a cara de desespero do menino que estava na calçada sendo jogado dentro de um camburão. Às vistas de Tv's, fotógrafos e jornais, ele agora está sentado ao lado do carro com uma arma apontada esperando que decidam o que fazer. Mas vejam, mais um lance, soltaram o menino. Afinal, a polícia está aqui para nos proteger como fizeram com os turistas da Hilux na última semana. Eu me sinto muito protegida e vocês?
Comentários:
Meu Deus, que absurdo!!
 
bizarrices do nosso país à parte, se o zé vir essa primeira foto vai te parabenizar! e eu tbm! show!:) manda isso tudo prum jornal e bota a boca no trombone! bj.
 
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
 
Deu na Grobonews pro Brasil inteiro, com direito a plano fechado do cara ameaçando o cidadão com a arma. O povo não é bobo: prefere a Rede Globo.
 
Parabéns pelo texto e pelas imagens, Vanessa. Uma pena, no entanto, se tratar de um registro da péssima qualidade do serviço prestado por nossa polícia. Abçs!!
 
Medo!
 
Sinto-me como um barquinho de papel, feito da folha de um caderno velho recém colocado no riachinho que corre junto à calçada, em meio a todo tipo de intempéries!
Os transeuntes apressados a fugir da chuva torrencial que lhes enruga as fardas e desmistifica os sapatos, pisando ao meu redor e provocando ondas descomunais; os garotos que por segundos podem libertar-se das mãos seguras dos seus tutores e me amassar com a crueldade típica da infância; as bicicletas imprudentes que calculam suas perícias e, por peripécia, brincam de atropelar alvos inúteis, como quem se vinga do destino de não ser carro ou algo mais blindado contra a morte estúpida.

Veia entupida de desgostos mata mais a cada dia no mundo!

O medo é um tempo próprio.
 
Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]





<< Página inicial