quinta-feira, outubro 04, 2007

Sobre ver e enxergar

"O olho vê, a lembrança revê as coisas e a imaginação é a imaginação que transvê, que transfigura o mundo."
Manoel de Barros

Enquanto aguardo o lançamento da versão de Fernando Meirelles para "Ensaio sobre a cegueira", leio o blog no qual ele publica as impressões e experiências desse período de filmagem. Engraçado acompanhar essas coisas e perder a imagem do diretor ser aquele que grita sempre no set e não se envolve com tantas questões. Fernando tem uma linguagem agradável e quase me vejo lá, experimentando com ele tantas emoções. Mas esse post na verdade é para falar de outro filme, que vi ontem à noite mais por acaso que por vontade. Estava cansada de uma daquelas reuniões das quais você sai querendo mudar de planeta, ser outra coisa, criar uma nova realidade e não precisar passar por coisas assim. O marido lindo, como sempre, veio em meu socorro e topou um cinema. Uma coisa leve, eu disse, e pensamos imediatamente em ver uma comédia para não raciocinar muito. Estava com sono, pegamos então uma sessão mais cedo e no horário que dava, "Vermelho como o céu" estava à disposição. Pela sinopse, um drama italiano sobre um menino de 10 anos que fica cego, aí eu já vi tudo: vou me acabar de chorar. Argumento vai, argumento vem, cedi e entramos na sala do Multiplex. Ainda bem. O meu interesse pelo tema cegueira não é de hoje. Gosto de tudo que se refere a isso, sendo eu uma míope que adora seus óculos. Há anos vi o documentário "Janela da Alma" que traz pessoas com diferentes graus de deficiência visual falando como se vêem, como vêem os outros e como percebem o mundo - dentre elas, o poeta Manoel de Barros cuja parte do testemunho durante a película abre esse post. Acho simplesmente fantástica a forma de captação da realidade que todos temos, todas tão diferentes sobre uma única coisa. São as tais possibilidades. Talvez por isso tenha me encantado com a história de Mirco, ontem ali na telona. O bem e o mal estão lá, bem definidos na pele do diretor recalcado e do professor-padre libertador. É uma história simples, com um final feliz para todos, ou quase todos. Não chorei durante o filme, dei algumas boas risadas e esbocei sorrisos escancarados porque mesmo cegos, eles continuam crianças com suas brincadeiras, descobertas e rebeldias. Eles não são diferentes em nada do meu serelepe enteado contador de histórias e jogador de bola. É sobre ter coragem para enfrentar aquilo que nos aprisiona que o filme fala. É de liberdade. É a vontade de transformação que me arrebata nisso, aliás, em qualquer coisa, frase, palavra, gesto, filme, música, pintura, grito... Sou covarde em muitas situações, tenho medo de ir. Mas eu vou.
Comentários:
Menina, tô curiosíssima pra ver o resultado desse filme também. Passei pra deixar um beijo pra tu.
:*
 
oi querida! registro minha passagem por aqui. adorei o texto.

"...tenho medo de ir. Mas eu vou."

ora se vou!

bj.

p.s. tenho que cobrar um encontro no chaguinha? rs.....
 
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