domingo, agosto 10, 2008

Dos filmes que assisto

Nunca vi um documentário tão poderoso e comovente como Nascidos em Bordéis. Indicado a mim por um colega de trabalho, fiquei umas duas semanas com a cópia emprestada na bolsa. A correria e o cansaço de meus fins de dia não me permitiam ligar o DVD e assisti-lo com cuidado. Que bom ter parado nesse sábado.

A história parece simples e bem parecida com a de tantas outras pessoas que decidem se envolver não apenas profissional mas pessoalmente com o seu trabalho. A fotógrafa americana Zana Briski vai à Índia e decide fotografar a vida das prostitutas de lá. Para que seu plano de ser apenas uma observadora dê certo, ela se muda para o bairro vermelho, o bairro dos bordéis em Calcutá, Índia. Dessa forma, ela veria a verdade do dia-a-dia dessas mulheres sem que elas se escondessem da câmera. Foi então que aconteceu. Pmpossível não notar as crianças, as diversas crianças filhos dessas meretrizes que moram ali naquele ambiente. O foco da história muda aí. Zana muda aí. Fazendo amizade com os pequenos, a fotógrafa acaba por realizar essa belíssima obra de arte do cinema-documentário.

Zana começa a dar aulas de fotografia a essas crianças e as presenteia com câmeras fotográficas simples, daquelas com filme. Só que aí eles recebem muito mais do que um aparelho fotográfico, ganham voz e esperança por meio das câmeras. No documentário, somos levados a enxergar o mundo pelos seus olhos e partilhar da suas vidas. Entre as aulas e saídas fotográficas, Zana também tenta arrumar um meio de melhorar as condições de vida dessas crianças. Nem sempre consegue. Aqui percebemos que a relação da fotógrafa com as crianças vai muito além do âmbito do filme. Não há espaço para o engajamento de mentirinha. Ela quer mudar aquilo e em vários momentos luta consigo mesma porque entende que nem tudo depende dela. Alguém aí deve um dèja vu? Eu, tive vários.

As fotografias que essas crianças produzem são da mais pura poesia e verdade. São as suas cores, sua cultura, sua vontade de liberdade, ali em folhas de contato. Não há como não se encantar com suas falas absolutamente sinceras, sua inocência ao tocar no mar pela primeira vez, sua vontade de voar, de sonhar, mesmo em meio a tanta sujeira, violência e falta de perspectiva. Fiquei pequena diante delas, tão pequenas com minhas reclamações diárias e minhas frustrações materiais. Assistam e depois me digam o que sentem. É um presente poder ver um pouco através da janela dos olhos deles.

sexta-feira, agosto 01, 2008

Pelo Centro da Cidade

Tem um restaurante no centro no qual eu almoço raramente. É delicioso, mas é longe para ir a pé e perto para ir de táxi além de ser caro. Mas gosto de ir lá. Tem varandinha para ficar vendo a rua e não tem nada melhor para mim que observar as pessoas na rua, como andam, para onde vão, em que local param... invento histórias, crio teorias, é uma festa.

Lá, tem uma garçonete que me prende a atenção a cada vez que almoço. Ela não é bonita e nem feia, não sei explicar, mas fico profundamente emocionada quando a vejo. É mais velha que a maioria de lá, olhos profundos e quase sempre baixos, anda apressada, postura curva, quase não fala com os clientes, cabelos curtos e brincos miúdos, nenhuma maquiagem. Tem uma expressão tão sofrida que fico muda quando ela passa. Tenho tanta vontade de conversar com ela, de saber suas histórias, há quanto tempo está ali, com o que sonha, com quem vive. Não tenho coragem, no entanto. Ela me intimida. Sua presença é tão forte para mim que prefiro imaginar a sua vida, fazer um enredo de filme de Almodóvar ou de livros do García Marquez, ela combina com as cenas.

Enquanto isso, vou seguindo de volta à minha vida querendo ter tantas outras quanto eu pudesse inventar...