quinta-feira, junho 04, 2009

Como chegar a Canindé

Ontem eu saía de uma reunião no fim da tarde quando um jovem me abordou perguntando se eu conhecia algum órgão que abrigasse pessoas perdidas. Não conhecia. Peguntei quem ele tinha perdido e me respondeu que ele mesmo. Havia vindo de Canindé, interior do estado, para uma consulta no hospital IJF e o carro da Prefeitura foi embora e o deixou por esquecimento. Disse a ele que procurasse uma Delegacia, me ofereci para ligar para a Prefeitura de Canindé, mas ele disse que desde segunda-feira estava em Fortaleza, que foi à delegacia e que o levaram a um programa de TV. Conseguiram contato com a Prefeitura mas lá informaram que só mandariam um novo carro na segunda-feira, que infelizmente não poderiam fazer nada. Mas guardariam uma vaga para ele voltar. Que aguardasse então.

Ele me disse seu nome mas confesso que agora não me recordo mais. Perguntei se tinha aonde ficar, respondeu que não, nunca havia estado em Fortaleza antes. Olhava para os prédios com ar cansado, estava cheirando mal, sujo e com fome. Contou que um policial havia lhe dado sete reais para comer mas ele tinha guardado. O levou à rodoviária, mas ninguém cedeu uma passagem. Que não tinha coragem de pedir nada a ninguém, era agricultor e trabalhava com a família. Só queria voltar pra casa. A passagem custava R$ 12,80. Tirei meus únicos R$ 10,00 da carteira e dei a ele. Expliquei qual ônibus pegaria para chegar à rodoviária mas ele disse que ensinasse como iria a pé, porque queria economizar para comer. Oferei um lanche mas não aceitou. Disse que eu estava fazendo demais. Agradeceu e pediu que eu rezasse para ele chegar em casa. Nunca havia sindo tão humilhado. Nunca tinha ouvido tantas palavras duras e se sentido tão desamparado. Não queria mais sair de sua cidade. Despediu-se e foi andando, de cabeça baixa e devagar.

Fui dar aula e falei dele aos alunos, alguns tinham-no visto no programa de Tv do dia anterior. Rezei por ele quando fui dormir e hoje me pergunto se ele conseguiu chegar em casa. Torço para que sim e para que eu nunca passe por uma situação como essas.
Comentários:
Olá, bom dia!
Por indicação de uma amiga, lí seu relato sobre o acontecido com esse cidadão.
Antes deixe me apresentar, sou Michel Brito, Sou chefe de Gabinete da Prefeitura de Canindé.
Realmente muito triste esse caso, não defenderei meus companheiros pq não sei realmente o que aconteceu independente de quem era, pois todos devem ser tratados bem e de maneira igualitária, sem distinção, mas acho que deve estar acontecendo algum engano.
Diariamente, saem para Fortaleza, 3 Ambulâncias fora alguns carros da Secretaria de Saúde, com o objetivo de levar pacientes para consultas e/ou internações, quando os pacientes são deixados no IJF os mesmos ficam em poder do Hospital até terem alta e serem por eles encaminhados de volta nas ambulâncias dos seus municípios, pois as assistentes sociais do Hospital (IJF) se encarregam de entrar em contato e embarcar esses cidadãos.
É um caso que precisaria ser analizado, será que seria mesmo de Canindé, será que estaria mesmo passando necessidades, pois nem mesmo o lanche oferecido ele quiz, porque queria o dinheiro? Para voltar pra Canindé, são muitas indagações que merecem várias reflexões.
Gostaria de que se soubesse algo mais que pudesse nos dar mais informações sobre essa pessoa, entrasse em contato.
Abraços
Michel
bsuplente@yahoo.com
 
Num é porque eu saí daí, mas Fortaleza também tem essa cara estranha, que torce a cara para o pobre, dá as costas à necessidade. Em pleno momento de SOS Enchentes, uma história dessas é um soco no estômago!
 
Bom, Michel, não sei com quem os policiais conversaram na Prefeitura quando encaminharam o rapaz ao programa Barra Pesada da TV Jangadeiro. Talvez você possa procurar a produção do programa, pelo que ele e meus alunos me informaram, a edição na qual ele apareceu foi ao ar na terça-feira.

Ele não me pediu dinheiro, fui eu quem ligou para a rodoviária e descobri o preço da passagem. Fui eu quem ofereci o dinheiro a ele. O fato de não ter aceitado o lanche não quer dizer que não estivesse com fome, é que algumas pessoas têm um senso de dignidade grande e como cantou Luiz Gonzaga "uma esmola, para um homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão".

Mesmo que use essa quantia para qualquer outra coisa, acho a história muito mirabolante para conseguir apenas alguns trocados. Ele me pediu uma informação, nada mais. Como pediu a outras pessoas, apenas informação.

Espero que consiga apurar o caso e que isso não volte a acontecer. nem com ele e nem com ninguém.
 
Oi Vanessa! Um rapaz também me abordou com a mesma pergunta, há mais ou menos um mês, na Av. Santos Dumont. Realmente não sabia dar essa informação a ele e tentei ver com os seguranças de uma Pague Menos ali perto se havia uma lista telefônica ou algo que pudesse ajudá-lo. Não consegui ajudá-lo e passei um bom tempo preocupada com o destino dele. Agora lendo essa história novamente, fiquei confusa: Será o mesmo rapaz? Estará ele perdido há tanto tempo? Ou será um outro rapaz e essa prática de abandono de pacientes tem se repetido? -- o que é ainda mais preocupante -- ou ainda um novo golpe. O mundo está tão virado que não sabemos mais o que pensar.
 
Van,
Lamento te informar, mas acontece o seguinte:
também fui abordado com uma pessoa exatamente nos mesmos moldes que vc falou.(com a mesma historia,tudo igualzinho inclusive as caracteristicas) Isso foi no bebedouro na semana passada.Tenho um amigo que a sua empresa faz a linha de ônibus para Caninde.Liguei pra ele na mesma noite já que a historia havia me comovido (o rapaz tb não aceitou comida que ofereci, Só queria o dinheiro pra voltar pra casa ). Consegui a passagem para a manhã seguinte e me propôs a ir deixa-lo na rodoviária naquela noite.Para minha surpresa ele disse "vou aqui falar com um amigo e já volto para ir com você".....Estou esperando até hoje. Me admirei dele não voltar já que eu tinha conseguido a tão sonhada passagem. comentei na mesa com amigos que me disseram que o cara sempre aparece por lá com a mesma história. Fiquei perplexo pois "acreditei" como um anjo e não havia motivo para ele não voltar. Não sei se é a mesma pessoa, só queria te relatar isso. Ainda existem pessoas que estragam a boa fé que temos na humanidade.

beijos zé
 
É, Mônica e Zé, o que me incomoda nessas histórias é que um dia pode ser real, sabe, aí como faz a pessoa que está mesmo perdida? A gente deixa de acreditar? Não sei se fui vítima de mais um golpe, se há uma nova modalidade na praça, tão difícil de dizer. Mas sinceramente, não quero ter que deixar de acreditar, não quero me assustar com alguém que me aborda na rua, não quero ficar cínica e rancorosa. Até prefiro que tenha sido um golpe, assim não tem ninguém perdido a essa hora pelas ruas de Fortaleza pensando em como vai chegar em casa.
 
Engraçado.... ouço tantas histórias parecidas aqui em SP que não me comovo mais. Quase nunca acredito. Acho que já criei uma defesa emocional contra esse tipo de coisa. Outro dia foi uma mulher aqui na porta da minha casa dizendo que estava com cancer e precisava comprar remédio, Falei p/ ela ir ao Hospital das Clínicas pois dariam o remédio de graça p/ ela. E ela saiu me xingando....
 
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