
Eu sou do carnaval. Passo o ano inteiro esperando por ele. Pensando nas fantasias, ouvindo meus frevos favoritos, organizando na cabeça os trajetos que farei, os shows pelos quais torço e vibro quando entram na programação. Fevereiro em Pernambuco é essencial para mim.
Fiz das tripas coração e negociei no trabalho novo a minha ida. Dois dias antes, desembarquei na minha cidade. Emocionada, cansada e extremamente ansiosa. O ar da cidade já me deixou tonta. Depois de meses na secura de Brasília, tanta umidade me causou estranhamento. Mas era um cheiro conhecido. De casa.
Voltar a Recife foi das experiências mais lindas pelas quais passei. Evitei a ida em dezembro. Eram as festas com a família, mas não me sentia inteira para responder as perguntas pelo fim de meu casamento.
Um pulo na praia, caldinho de feijão, cerveja gelada e amendoim torrado. Ruas de Olinda, coloridas, calor, calor, calor. Engarrafamento. Pontes do meu Recife. Eu, fascinada pelas cores e texturas do lugar que melhor me representa. As pessoas, o barulho, tudo era familiar. Como é possível não morar mais ali há seis anos e no entanto sentir como se aquilo tudo absolutamente fizesse parte de mim?
Que saudade tive do sotaque! O meu hoje, tão misturado, se reconheceu e voltou a ter aquela entonação e as expressões! Tabacudo, pantim, lascou, freje, arrodear, a pulso, azuretado, bexiga lixa, maloqueiro, pitoco.
No meio da festa, entre frevos, cirandas, maracatus, piratas, colombinas, pierrots e latões de skol descobri que estou pronta. Para estar em qualquer lugar. Para amar qualquer pessoa. Para ser amada novamente. Para viver sozinha. Ali, eu estava comigo mesma e não existia companhia melhor.