domingo, março 27, 2011

Seguindo

Passou o dia mexendo nos canais da televisão, vendo filmes repetidos, lendo emails, trocando mensagens com alguns amigos. Chovia e ela não queria sair do sofá. Teve preguiça de tomar banho, de ligar para a irmã, de pentear os cabelos. O pensamento estava na decisão tomada a duas semanas. Continuava firme, seria forte e seguiria mantendo a tranquilidade. Ia passar, era o que todos diziam. Ela também acreditava nisso. Mas enquanto não passava, ocupava a mente com os jornais e o trabalho por fazer.

Renomeou arquivos, apagou fotos, adicionou novos contatos às agendas. Criou coragem para um banho frio, mas não quis desembaraçar os cachos que se formaram nos cabelos. Pensou que logo iria mudar a cor, mas depois mudou de ideia. Trocou meia dúzia de palavras com uma amiga e foi pegar um livro para se distrair de novo. Escolheu García Marquez, desistiu. Pegou Drummond, devolveu à estante. Clarice. Primeira página. Foi atingida pela dedicatória da qual nem lembrava. E ele veio. Incontrolável, inesperado e completamente arrasador. O choro que guardava a dias. Quase sem deixá-la respirar.

Imaginou a vida que deveria ter vivido se o hoje fosse a alguns anos. Os planos, os caminhos, as pessoas. A solidão escolhida, as mudanças de cidade, a vontade constante de ir sempre embora. O medo de fazer o que não queria. Chorou como quem abre comportas e não se preocupa se vai inundar casas, vilas, cidades, países. Precisava escoar a tristeza e abrir o peito para o que ainda viria. Porque não acabou e ela sabia, levaria consigo para sempre esses dias. Estava pronta. Precisava ir. E iria.
Comentários:
Van, há momentos em que também me sinto assim. O vontade de chorar contida dura alguns dias, até que vem sem pedir licença. E aí parece que o peso no peito vai embora e as ideias ficam mais claras...
 
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