terça-feira, outubro 25, 2011

Mais de 1000 Km por Fagner e Cidadão Instigado

Publiquei primeiro no Pastilhas Coloridas

Foto: Tatit Brandão

Quando um amigo me disse que Fagner ia tocar em Sampa com Cidadão Instigado, corri pra ver o calendário e decidi, vou. Avisei a uma amiga que ia comprar passagens de Brasília para a capital paulistana, me hospedaria na casa dela e iríamos juntas conferir esse encontro no SESC Pompéia. Fui.
Aprendi a gostar de Fagner quando era criança em Recife, com aqueles hits que se ouvia em novelas, radinhos de pilha em ônibus e calçadas de botecos. Achava engraçado aquela cara que cantava balançando a cabeça e que o Didi Mocó imitava no programa Os Trapalhões.
 Já adulta fui morar em Fortaleza e, por influência do ex marido cearense, ouvi o álbum Manera, Frufu, Manera de 1973. Chapei completamente nos arranjos e nas guitarras desse álbum. Foi exatamente por causa dessa referência que pirei na idéia de ver o Cidadão e os toques de Fernando Catatau com as letras losers e cortantes de Raimundo Fagner.


Durante os dois dias de show – sim, fui na sexta e no sábado - foi impossível não me espantar com a platéia. Não imaginei que a paulistada ia curtir o cara, mas estavam lá, curiosos como eu. Casais, novos e idosos, a rapaziada cult de barba e armações de óculos modernas, as moças sofredoras, escritores, jornalistas, o fã de Sobral/CE que mora em São Paulo e fez um cartaz escrito à mão para declarar sua emoção. Todos cantando.
No primeiro dia, cheguei atrasada, destreinada do trânsito de Sampa. Cheguei com o show em andamento, esbaforida e quase caio na entrada. Levei duas amigas extremamente paulistas pela mão. Queria que vissem e sentissem o que eu já havia sentido. Show da choperia, vamos aos chopps, afinal, era Fagner, eu ia chorar. Foi um show mais emocional, menos técnico. Fagner visivelmente espantado com a curiosidade que despertou por ali. Já os meninos do Cidadão Instigado, reverenciando um ídolo. Arranjos sem tanta ousadia, provavelmente fruto do único ensaio que tiveram, mas muita generosidade das duas partes. Ao meu lado, as amigas choraram, mas quando começou a tocar Cartaz, foi como se estivéssemos em um pré carnaval no bairro do Benfica, em Fortaleza, ou numa prévia em Olinda. Se elas foram comigo, eu não ia chorar mais. Nota emocional: uma das coisas mais bonitas da noite, ver Fagner e Catatau cantando juntos, aos gritos e com uma guitarra distorcida, Lá Fora Tem, do Cidadão.
 
No sábado, Cidadão abriu a noite. O Ceará em peso estava no SESC Pompéia. Platéia animadíssima, mais até que na noite anterior. Entra no palco um Fagner simpático e depois de começar logo lascando com Cebola Cortada avisa: o trabalho com o Cidadão vai ter continuidade. Nada bobo o moço. Parceria com Catatau costuma ser sinônimo de sucesso e a julgar pela delícia de arranjos que imprimiu nas canções do veterano cearense, vem disco massa por aí. Banda afinada, repertório que passeou entre os temas de novela ao lado B da década de setenta, sobretudo. Foi bonito de ver e de ouvir Cavalo Ferro numa versão mais rock.

 Não teve choro nessa noite, nem teve chopp, queria ter um olhar mais crítico. Óbvio que não consegui. Muito por culpa da inclusão de Noturno no repertório. Culpa também do Cidadão Instigado, que acabou comigo com os arranjos de Revelação. Incrível como há beleza nessas letras tão doloridas, tanta poesia na simplicidade de uma composição como Deslizes (que é da dupla Michael Sullivan e Paulo Massadas), a melô da submissa, como bem disse Tatit Brandão, fotógrafa e companheira nos shows. Nota emocional: viciei Tatit completamente no Fagner. Ele foi o repertório do fim de semana inteiro em que estive em Sampa e desconfio que ainda será trilha sonora de muitos dias à frente.

Quando morava em Fortaleza, uma amiga tinha o número celular do Fagner. Em alguma ocasião tinha feito uma entrevista com ele e guardou o contato. Numa noite de bebedeira, ligamos para o coitado. Pronto. Bêbados, ouvindo Canteiros, com um celular na mão. Pobre Fagner. Acho que agradecemos a ele as emoções que nos proporcionou com suas canções, acho que ele agradeceu de volta. No sábado, pensei em ir até os bastidores, bater um papo, saber o que ele tinha achado da noite. Decidi que melhor não. O que ele achou estava ali, estampado na cara, nas lágrimas, nos corações partidos, na dor expiada aos berros a cada verso, na animação dançada de Cartaz.

Além do mais, vai que ele reconhecia a voz daquela noite de bebedeira no Ceará. Melhor não arriscar.

 

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Comentários:
Adorei seu relato deste evento único do qual só agora tive conhecimento. Ainda bem que gravaram boa parte do show e que você compartilhou uma história tão bacana! Não conheço muito do Fagner (a não ser pelas novelas e por um disco que meu pai ouvia quando eu era criança). Achei os vídeos pois fui procurar novidades do Cidadão Instigado, baita grupo!
Obrigado por compartilhar!!
 
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