terça-feira, fevereiro 14, 2012

Que me caiba

Nos últimos anos me acostumei a chamar de casa o meu próprio corpo, as minhas ideias, lembranças e pensamentos. Casa é onde me sinto segura e, na maioria das vezes, é em mim que me seguro. Não sou de apegos a paredes, pessoas, gato, cachorro, praia, serra, carro, roupas, livros, nada. Tenho saudades disso tudo, provavelmente é disso que sou formada. De trocas. De toques. De desejos. De realizações. De dores. De frustrações. De felicidades.

Então, hoje estou às vésperas de entrar de férias, passar dez dias em Pernambuco, de onde sou, cujas ruas de algumas cidades sou capaz de percorrer dentro da minha cabeça numa fechada de olhos, sentindo o cheiro, o calor e as cores. Desde ontem estou esquisita. Quieta, angustiada, desassossegada. Mala pronta, me pergunto o que ainda faço aqui. Por que não volto? Seria mais simples. Ter mãe, irmã, amigos, cerveja nos bares do coração. O mar. O sotaque. Mas não saberia viver ali. Não mais.

Vai ser carnaval, as fantasias estão prontas, já sei quais ladeiras irei subir, quais blocos seguirei, as bocas que talvez beijarei e as músicas que ouvirei. É a minha festa. No entanto, a euforia dos dias anteriores abriram espaço para uma sensação de cansaço. De que talvez esteja ficando velha. De que começo a vencer a ansiedade. De que sou feita para acabar. Acho que perdi a pressa. 

Tenho a sensação de que os lugares onde morei são roupas que não servem mais. Engordei. Emagreci, sei lá. Não tenho raízes fincadas. São aéreas. São antenas captando as novas ondas de vidas que ainda terei. São seis meses de volta à Brasília e tudo está bem. A casa, o trabalho, a saúde, o visual, os amigos. Fico. Até que não me caiba também.
Comentários:
ai que lindo esse texto. lindo.
 
que ansietude!!!
Um belo texto. Parabéns pelas descobertas.
É muito bom te ler.
Jota Só - DF.
 
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