domingo, junho 15, 2014

Domingo

Para ler ouvindo Slow Dancing In A Burning Room, do John Mayer.

(Uma vez você me disse que queria ler um texto meu, um que não fosse do Facebook. Então, esse texto aqui é seu, para você, cada letrinha)

É domingo e aqui em casa faz dezesseis graus. Está tudo meio bagunçado, como dentro da minha cabeça. Meu quarto está com quase todas as minhas roupas espalhadas pela cama, na cadeira, no chão. Não desfiz direito as malas das duas últimas viagens. Não tive tempo, não tive paciência, não tive vontade. Acho que já estava inquieta, já sabia que ia embora.

Os gatos estão aqui, dormindo na cama quentinhos e ainda falta vacinar e castrar Cuscuz, falta vacinar Tapioca e Evaristo está com uma feridinha na testa que está me preocupando, acho que foi briga com outro gato. Consertei o chuveiro. Para o almoço vou fazer um filé com molho barbecue para comer com uma garrafa de vinho na varanda aqui de cima ouvindo o barulhinho do rio. Quero aproveitar esse domingo quietinha, me despedindo já da casa, da vista. É mesmo um novo tempo e estou tranquila com a chegada dele.

Tentei fazer os cálculos para saber quantas vezes disse a você e a mim mesma que acabou. Não consegui. Aí me dei conta que dessa vez a gente não precisou dizer. Está acontecendo e, apesar dessa tristezinha aqui dentro, está tudo bem. Esse não é um texto triste. É um para dizer o quanto amei você. O quanto isso tudo me transformou e me ajudou a perceber coisas sobre mim. Sobre como devagar fui vencendo o meu medo de me machucar, de me entregar, sobre a vontade de estar com alguém, de estar com você. Sobre o quanto me senti amada e desejada e, principalmente, sobre saber deixar ir.

Já te disse algumas inúmeras vezes que estou ao seu lado, que torço pela sua felicidade. É verdade. Gosto do que vivemos, abro um sorriso quando penso nisso, em como nos conhecemos, nos envolvemos, nos evitamos, nos apaixonamos e agora nos separamos. Somos tão diferentes e tão parecidos, tão em sintonia com essa química maluca que nos aproximou de início que é estranho não ter mais seu corpo colado no meu, não trocar mais as fotos safadas na madrugada, nem as conversas quentes que me faziam varar as noites e ir trabalhar zumbi no outro dia. Ironia é perceber que não temos uma foto juntos, não uma, digamos, publicável. Isso não é sintomático? Eu acho.

Devagar a vida vai encontrando novos rumos, a sua e a minha, e fico feliz de ter feito parte dessa sua transição, mesmo de maneira conturbada por algumas vezes. O amor que senti por você foi mais que verdadeiro, foi transformador e logo vai tomar outros contornos, outras nuances, e ainda assim será amor. Talvez ainda tivesse muito o que te dizer, mas acho que não precisamos mais de desculpas para esticar isso. Vamos nos ter ainda, mesmo sem saber um do outro com tanta frequência, mesmo sem trepar, sem se abraçar, sem se acordar com ligações e mensagens na madrugada. Estamos na vida um do outro e espero que continuemos por um longo tempo.

Deixa a mudança chegar, acalma teu coração, abraça teu filho, seja paciente com teu pai. Constrói a tua família com tua mulher, me parece que o teu caminho será esse e não vai demorar. Tem amor aí, tem calmaria e paz, é o que te mantém, é o que te referencia. Aceita. Vai ficar tudo bem.

Estou com os dedos cruzados para que o melhor nos aconteça, mesmo que já tenha percebido que não somos um o melhor para o outro. É tempo de nos libertar e ir. Então, vamos.

Isso não é um adeus. Mas é.


Comentários:
Que lindo texto. Cadê +??
 
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